Segundo o IBGE, 13,4% da população terminou 2023 em desocupação, maior taxa do país. Baixos salários e falta de oportunidades criam a chamada gestão da sobrevivência, aponta especialista
Por: Marcílio Albuquerque / FONTE: DP
Governo aposta em melhora de posição, ainda neste semestre (Foto: Bernardo Dantas / DP) |
Pernambuco registrou, no último ano, a maior taxa de desocupação do país. Os dados, que apontam a carência no emprego formal, foram divulgados, ontem, pelo IBGE, dentro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD). Nesta escala, o estado assinala a falta de oportunidades para 13,4% da população de 14 anos ou mais. O número representa quase o dobro da média nacional, na ordem de 7,9%. Conforme especialistas, a tendência vem se repetindo nos últimos cinco anos. O resultado de 2023 tem, entre as principais influências, setores como o comércio e serviços, que apresentaram retenção de investimentos em razão de incertezas econômicas.
“Temos um estado que ainda amarga resquícios da pandemia, mas que também foi prejudicado por projetos estruturadores que prometiam uma grande aceleração e não alavancaram, como os exemplos da refinaria e do estaleiro. Houve o desenho de um início de recuperação, a partir de 2022, mas com um ritmo lento e aquém das necessidades”, explica o professor de economia, Paulo Alencar, que aponta uma migração natural para a informalidade. “As pessoas acabam achando caminhos para a própria sobrevivência e o sustento das famílias. As ações de transferência de renda e os programas assistenciais, apesar de extrema relevância, conseguem pavimentar este caminho”, completa.
Aproximadamente metade dos pernambucanos trabalhou na informalidade em algum momento de 2023, enquanto a média nacional foi de 39,1%. Segundo o levantamento, mesmo com índices preocupantes, esse foi o menor percentual do estado desde 2015, além de demonstrar uma tendência de queda nos dois últimos anos. Em 2021, com a economia ainda sob efeito das ações de lockdown, o degrau chegou a 20,2%; em 2022, a taxa foi de 15,9%. O apanhado ressalta que a taxa de informalidade, aferida por trabalhadores sem carteira assinada, domésticos sem registro, empregador sem CNPJ, conta própria sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar, foi de 50,1% da população ocupada.
Representando alguns dos nichos que derrubaram o ranking , a Fecomércio-PE, avalia que a projeção também não é animadora para 2024. Entre os pontos, a entidade cita o impacto da elevação da alíquota do ICMS no cenário econômico do comércio varejista estadual. A estimativa aponta que a elevação para 20,5% no modal afeta, principalmente, o segmento de bens não duráveis, com alimentos e bebidas; e semiduráveis, com vestuários e calçados. “Já nos deparamos, por exemplo, com uma redução no volume de vendas nos supermercados, na ordem de até 10% e a baixa na logística. Os setores buscam investir e gerar mais empregos, mas esbarram em dificuldades. Algumas ações não podem ser desconsideradas, como a desoneração da iniciativa privada e a retomada de obras, fortalecendo a qualificação da mão de obra”, explica o presidente, Bernardo Peixoto.
Na visão do Governo do Estado, os números não demonstrariam, necessariamente, um panorama de declínio. “Quando eu observo o recorte do último trimestre, entre outubro e dezembro, nós estamos na verdade avançando, com novas vagas de emprego geradas e índices que foram superiores aos demais polos do Nordeste”, rechaça a secretária de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo, Amanda Aires. Segundo ela, a gestão investiu na atração de investimentos, com a chegada de companhias como o Mix Mateus e a Heineken.
“Entendemos que 2023 ainda foi um ciclo de retomada e alguns percalços realmente existiram. Contudo, a nossa perspectiva é de redução do desemprego e avanços até junho deste ano. A cultura da informalidade sempre vai existir, mas nosso papel é de ofertar sempre condições de crescimento para todos”, disse. Aires reforça o papel da Agência do Trabalho, que realizou, no último trimestre, um feirão com quase 1,1 mil oportunidades, além de manter um programa de qualificação profissional, com a oferta de cursos e capacitações direcionadas às principais atividades.
O economista, Werson Kaval, pondera sobre a relação dos números de desemprego em Pernambuco. “No primeiro semestre de 2023, o estado já estava com a taxa de 14,1%, que era a segunda maior do país. Naquele período, ele perdia apenas para a Bahia, que estava com a média de 14,4%. Outro ponto grave é em relação à receita. Se observarmos, a renda média do cidadão estava em R$ 2.053, mas caiu para R$ 1.952, mostrando que os indicadores estão piores”, alerta o especialista, que continua: “Mesmo que a taxa agora seja a menor, desde 2015, não há motivos para comemorar, já que o estado não vem fazendo o dever de casa. É assustador computar que metade dos trabalhadores ainda se desenvolve na informalidade, não sendo isto empreendedorismo e sim uma gestão da sobrevivência”, completou.
Para a gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita, os indicadores de produção industrial, de serviços e de vendas do comércio já demonstravam, ao longo de 2023, um menor dinamismo na economia pernambucana. “O grande volume de pessoas no mercado informal, sem garantias trabalhistas e com menores rendimentos do trabalho, gera uma insegurança quanto ao futuro, refletindo em menores despesas e compras de menor valor”, pontuou.
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