Empresários de Suape relatam transtornos com gargalos na BR-101 e cobram ação coordenada entre Suape, DNIT e governo de Pernambuco
De Recife patricia.raposo@movimentoeconomico.com.br / FONTE: ME
Os constantes engarrafamentos no acesso ao Complexo Industrial Portuário de Suape estão gerando uma série de transtornos para empresários e trabalhadores. O caos no trânsito é um problema antigo, que tem gerado prejuízos logísticos, financeiros e até riscos à vida de quem depende do trecho da BR-101 entre Recife e Suape.
No começo da tarde desta terça-feira (29), vídeo compartilhado com o Movimento Econômico registrou uma fila quilométrica no sentido Recife-Suape. Na semana passada, o caos se instalou no dia da posse do novo presidente de Suape, Armando Monteiro Bisneto. Nem convidados, nem autoridades, nem trabalhadores escaparam de uma longa espera na estrada. O que deveria ser uma viagem de menos de uma hora, transformou-se em um trajeto de até duas horas e meia.
A desconexão entre a infraestrutura portuária e a malha rodoviária sob responsabilidade do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) foi o ponto central levantado por Manoel Ferreira, presidente do Grupo Agemar.
“Não adianta ter um porto eficiente se a principal via de acesso é um caos. O DNIT faz obras sem qualquer planejamento, como capinação ou tapa-buraco em plena hora do rush. Isso é um gargalo grave que ninguém está enfrentando de forma sistêmica”, afirma Ferreira.
O presidente da Agemar explica que, para manter a eficiência das operações em seu terminal, foi necessário aumentar de 15 para 25 o número de caminhões contratados, apenas para compensar o tempo perdido nos congestionamentos. “Eu não posso parar a operação de descarga do navio. Então, preciso ter mais veículos à disposição, o que eleva os custos e impacta toda a cadeia”, relata.
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A realidade é semelhante para Paulo Germano, presidente da APG Transporte e Logística. Com uma frota de mais de 100 caminhões, ele destaca que o trecho entre o Cabo de Santo Agostinho e Suape, de menos de 20 km, pode levar até três horas em dias críticos, com obras na estrada. “É surreal. Nossos motoristas têm jornada de trabalho regulamentada. Se passam 4 horas parados no trânsito, só têm mais 4 horas para dirigir. Isso inviabiliza a produtividade, aumenta os custos e ainda expõe as empresas a riscos trabalhistas”, explica.
“A gente tem, ironicamente, vários casos de empresários que vieram conhecer Suape, conhecer nosso polo logístico… e perderam o avião na hora de ir embora porque ficaram presos no trânsito”, diz Paulo Germano.
Germano também alerta para o impacto humano do problema. “Ontem mesmo, uma moto caiu na frente do meu carro por causa de um buraco. Quase foi uma tragédia. E o que mais se vê são ambulâncias presas no engarrafamento, trazendo gente de Amaraji, Água Preta, Barreiros… Perde-se consulta, audiência, e até a vida.”
Trabalhadores esgotados e atrasos operacionais
Quem também sente os efeitos diários do gargalo é João Poggy, presidente do Órgão Gestor de Mão de Obra de Suape (OGMO), que representa 857 trabalhadores avulsos do porto. “Cerca de 97% desses profissionais saem de Recife em ônibus fretados pelos operadores portuários. Tivemos que antecipar em até duas horas a saída dos ônibus para tentar garantir o início dos turnos. Mesmo assim, muitos chegam atrasados e temos perda de produtividade”, afirma.
Poggy critica duramente a falta de lógica nas intervenções do DNIT. “Fazem manutenção no horário de maior fluxo, quando o mínimo seria realizar essas ações à noite. A alegação do DNIT é que os contratos atuais não preveem pagamento de adicional noturno. Ora, isso pode ser corrigido na renovação contratual, basta vontade política.”
Prejuízos no comércio exterior e risco à reputação
Para José Luiz Moutinho, da EB Logística, o gargalo afeta diretamente operações de trânsito aduaneiro (DTA) que sua empresa faz entre Suape e Cabedelo (PB). “A Receita Federal exige que esse trajeto seja feito em até seis horas. Com o trânsito, estamos levando até nove. Já estamos sofrendo penalidades e perdendo eficiência. Tenho que pagar diárias aos motoristas, deixar caminhões parados e contratar mais veículos para dar conta dos clientes”, disse.
Além do trânsito na saída da Suape, motoristas da EB Logística que se dirigem a Cabedelo enfrentam outro gargalo histórico, desta vez no município de Abreu e Lima.
Moutinho revela que o custo médio por caminhão é de R$ 2.500. “Se o caminhão é obrigado a dormir em Cabedelo, deixo de faturar com ele. Isso gera despesas adicionais e prejudica o cliente, que não quer saber de congestionamento. Ele quer a carga dele no prazo”, sustenta.
O risco de um colapso
A preocupação com o futuro da região é consenso entre os empresários. O crescimento dos condomínios logísticos e do número de empresas instaladas no entorno de Suape tende a agravar a situação. “Se nada for feito, em três anos, esse trecho da BR-101 vai colapsar. É urgente uma coordenação entre Suape, DNIT e o Governo de Pernambuco”, alerta Manoel Ferreira.
O arco metropolitano, previsto para desviar parte do fluxo, é visto como uma solução de médio prazo, mas os problemas são imediatos. “Não dá para esperar. É preciso uma solução emergencial para evitar o estrangulamento completo da logística de Suape”, completa João Poggy.
Enquanto isso, trabalhadores enfrentam jornadas estendidas. Fernando Marcelo Silva, diretor do Sindicato dos Conferentes de Suape, ressalta que quem trabalha em Suape está perdendo suas horas de folga preso em engarrafamentos. Ele atribui o agravamento da situação ao modelo de bloqueio para operações logísticas.
“Antes, interditavam só uma pequena parte da pista, uns 300 metros, porque o trabalho era braçal. Agora, estão usando pá carregadeira e caminhões pesados, e o trecho interditado chega a 2 ou 3 quilômetros. São manobras longas e demoradas que acabam retendo muitos veículos”, relata Fernando.
Rotina de transporte comprometida
Os trabalhadores portuários utilizam ônibus organizados pelo sindicato, que saem do Recife em horários fixos. No entanto, os deslocamentos têm se tornado cada vez mais imprevisíveis, tanto na ida quanto na volta.
Quem trabalha no turno das 8h sai do Recife nos ônibus das 6h. “Esse grupo sofre mais, porque quem entra às 14h, no segundo turno, acaba pegando a estrada mais livre, já que transitam quando é horário de almoço para os funcionários do DNIT. Só que, quando o turno da manhã larga, acaba encontrando intervenções na estrada também na volta. Quem deveria chegar ao Recife por volta das 15h30, acaba chegando às 17h”, explica.
Atrasos impactam operações no porto
Esses atrasos têm comprometido os turnos e impactado diretamente as operações com navios. “Se a turma que deveria estar no porto às 14h chegar atrasada, o navio fica parado esperando, porque só pode operar quando a equipe está completa”, afirma, acrescentando que, com o sistema de quatro turnos diários, qualquer atraso na chegada de uma equipe desorganiza toda a cadeia de operação portuária.
Cobrança por soluções e alternativas
Embora haja alternativas de acesso, como a estrada do Paiva, muitos trabalhadores evitam esse trajeto devido aos custos, já que, assim como a estrada para Suape, esta também é pedagiada. “Pagar dois pedágios não é viável para quem faz esse percurso todo dia”.
Fernando defende a criação de uma via alternativa, com a duplicação do trecho que corresponde à antiga BR-101. “Um porto importante como Suape precisa de novas vias de escoamento”, defende.
João Poggy disse que o OGMO já buscou apoio do governo do estado para ajudar a resolver o problema junto ao DNIT, mas nada adiantou. “A administração de Suape e o governo do estado precisam tratar o assunto com o DNIT. Esses engarrafamentos estão prejudicando a imagem do porto”, ressalta Poggi.
O Movimento Econômico buscou ouvir a Secretaria de Infraestrutura, mas lá, o entendimento é que essa é uma questão de responsabilidade do DNIT, e isso deve ser tratado diretamente com o órgão.
No DNIT, a reportagem tentou saber como funciona o planejamento das intervenções de limpeza e recapeamento nas estradas e se o órgão considera alterar contratos com prestadores de serviço para permitir que essas intervenções passem a ser feitas à noite.
O DNIT respondeu por nota, que se segue na íntegra:
“O DNIT informa que tem trabalhado junto às empresas contratadas para que os serviços sejam realizados de modo a minimizar impactos no fluxo da rodovia durante sua execução, evitando os horários de pico e de grande circulação de veículos.
Entretanto, por questões de segurança, tanto para os usuários quanto para os operários responsáveis pelos serviços, não é recomendável que os trabalhos sejam feitos no horário noturno.
Além disso, nos contratos atuais, não há previsão, nos preços dos serviços, de pagamento de verbas que possibilitem a realização de serviços nos finais de semana ou feriados, porém, encontra-se em análise a possibilidade de que nas próximas contratações haja previsibilidade para tal.
Ressaltamos que o objetivo do DNIT é prestar os melhores serviços e da melhor forma possível, por isso a compreensão e cooperação de todos é fundamental a fim de minimizar os efeitos de eventuais transtornos.”
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