Impulsionada pela retomada da Refinaria Abreu e Lima, a indústria de Pernambuco cresceu 31,3% em abril e ultrapassou o Ceará, que vinha liderando o setor no Nordeste e registrou queda de 3,9%, segundo dados do IBGE

Ângela Fernanda Belfort

De Recife angela.belfort@movimentoeconomico.com.br / FONTE: ME

A produção industrial de abril registrou um crescimento de 31,3% em Pernambuco, enquanto o Ceará – que vinha puxando este índice pra cima no Nordeste – registrou uma queda de -3,9%, comparando com o mês de março, segundo informações divulgadas pelo IBGE nesta quarta-feira (11). O grande crescimento de Pernambuco – o maior da série histórica – foi pontual e refletiu a retomada da produção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). O comportamento da indústria do estado saiu da grande influência do setor sucroenergético e agora é impactada, fortemente, pelo setor de petróleo.

“A produção da refinaria tem um peso grande na produção industrial de Pernambuco, embora o estado tenha grandes plantas industriais. Não houve uma diversificação da indústria pernambucana que depende de setores chaves, como petróleo, química, automotivo e sucroenergético, que impacta no químico e no alimentício”, resume a gerente de Planejamento e Gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita Lins.

Outro fator que também contribuiu para o crescimento “pontual” alto na produção industrial pernambucana de abril foi o fato de que uma parte do crescimento registrado foi comparado com uma base baixa, justamente nos três primeiros meses do ano, quando uma redução ou paralisação da refinaria puxou a produção industrial para baixo, segundo Fernanda e o economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Cezar Andrade.

De acordo com o economista, a Rnest não voltou a sua capacidade máxima em abril, mas provocou uma recuperação da produção industrial em Pernambuco, porque a produção de petróleo tem um peso “gigante”, além de ser um produto de alto valor agregado. “O abril de 2024 foi melhor do que o mesmo mês de 2025. Os derivados de petróleo tiveram uma redução de 9,6% da sua produção, na mesma base de comparação (abril de 25/abril de 24)”, comenta Cezar. A produção industrial de Pernambuco caiu 3,4%, na base de comparação citada pelo economista.

Ainda na mesma base de comparação, a fabricação de produtos alimentícios registrou um decréscimo de 7,3% em abril último. “Isso é influência do fim da safra de cana-de-açúcar”, explica Cezar. Alguns setores registraram crescimento em abril, como a produção de borracha plástica (+10,9%) e produtos de metal (+10,6%), comparando com o mesmo mês do ano anterior. Como essa produção é muito pulverizada não dá pra saber mais detalhes.

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Ele argumenta também que os três primeiros meses do ano, em que ocorreu a redução da produção de derivados de petróleo da Rnest, podem contribuir para que o Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco tenha um crescimento menor em 2025. “Por isso, é tão importante para o estado que seja concluída o trem 2 da Rnest. Vai trazer mais competitividade ao estado e poderia melhorar até a balança comercial”, explica Cesar. A conclusão do trem 2 resulta no aumento da capacidade de produção da Rnest.

Cesar Andrade - Fiepe- economia
Economista da Fiepe Cezar Andrade considera “pontual” o crescimento da produção da indústria pernambucana em abril último. Foto: Fiepe/Divulgação

“Tradicionalmente, Pernambuco sempre teve um segundo semestre melhor na produção industrial por causa da safra da cana-de-açúcar e pelo crescimento da demanda para atender as compras de fim de ano”, comenta Cezar. E acrescenta: “há uma tendência da produção industrial voltar a crescer no segundo semestre”. A indústria representa 20,7% do PIB de Pernambuco.

Mesmo com o grande aumento de abril, a produção industrial de Pernambuco registrou uma queda de 15,9% de janeiro a abril deste ano e uma redução de 1,6% no acumulado dos últimos 12 meses.

Queda da produção industrial do Ceará

A queda de 3,9% da produção industrial cearense em abril foi a maior do País, comparando com o mês anterior. A produção industrial do Ceará caiu 5,3%, comparando abril de 25 com o mesmo mês de 2024, registrou uma queda de 1,8% de janeiro a abril deste ano e um crescimento de 3,8% nos últimos 12 meses.

Segundo o gerente do Observatório da Indústria Ceará e economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Guilherme Muchale, os números citados acima sinalizam uma desaceleração da produção industrial cearense, influenciada por diversos fatores. Ele destaca a elevada base de comparação — em abril de 2024 o Ceará havia registrado um expressivo crescimento de 12,2% —, o aumento da taxa de juros real, as incertezas no cenário internacional e a retração do consumo doméstico. E argumenta: “a desaceleração já era esperada, especialmente considerando que, em 2024, a indústria cearense apresentou a maior taxa de crescimento dos últimos 10 anos”.

Guilherme também explica que, em termos setoriais, o Ceará apresenta crescimento relevante nos setores de Químicos (54,4%), “com recuperação nos produtos de herbicida” e Metalurgia (27,5%), com a retomada dos números de exportação diante do quadro de mudanças tarifarias dos EUA”.

Ainda em abril último contra o mês anterior, alguns setores que apresentaram redução na produção industrial foram máquinas e materiais elétricos (-39,4%), coque e derivados de petróleo (-21,4%) e confecção (-17,1%). O primeiro, segundo Guilherme, foi “prejudicado pelo aumento dos juros e adiamento de leilões de energia”.

Ele argumenta também que é relevante reforçar que “dois importantes setores industriais que tem apresentado crescimento nos empregos gerados em 2025 no Ceará, a indústria da construção e o segmento de distribuição de água e saneamento, não são cobertos metodologicamente pela pesquisa, entretanto, serão divulgados nos resultados do PIB do 1º trimestre, o que contribuirá para um resultado mais positivo da indústria cearense neste período”.

Ainda sobre a produção industrial em abril, seis dos 15 locais pesquisados pelo IBGE apresentaram taxas positivas. Na região, a Bahia registrou um crescimento de 0,5%. Os demais estados registraram a seguinte performance: Goiás (4,6%), Espírito Santo (-3,5%), Rio de Janeiro (-1,9%), São Paulo (-1,7%), Mato Grosso (-1,4%), Amazonas (-1,3%), Pará (-0,8%), Minas Gerais (-0,3%) e Paraná (-0,1%).

A Região Nordeste apresentou um crescimento de 7,2% e a média nacional da produção industrial, em abril, ficou em 0,1%.

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