Estudo inédito do FGV IBRE mostra que o PIB do Nordeste cresceu 3,2% ao ano no biênio 2023-2024, com energia e agro como destaques

Paulo Goethe

De Recife paulo.goethe@movimentoeconomico.com.br / FONTE: ME

Um estudo inédito do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) revela que, no Nordeste, a força do Produto Interno Bruto (PIB) – que mede a soma das riquezas produzidas em uma região – está cada vez mais centrada na geração de energia limpa, diferentemente de outras regiões do país, onde o crescimento é puxado majoritariamente pela agropecuária.

A constatação vem acompanhada de dados atualizados de 2025: segundo o Índice de Atividade Econômica Regional (IBC-Br), calculado pelo Banco Central, a economia nordestina cresceu 2,1% em janeiro na comparação interanual e avançou 4,1% no trimestre, desempenho superior à média nacional de 3,4%.

Para estimar com precisão o desempenho regional, o FGV IBRE desenvolveu uma metodologia própria, aplicada pela primeira vez ao cálculo do PIB do Nordeste no biênio 2023-2024. O resultado foi uma média anual de crescimento de 3,2% no período, próxima à taxa de 3,3% registrada nacionalmente.

A análise foi conduzida pelo Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste, com sede em Fortaleza, criado para suprir a falta de dados regionais atualizados. O escritório regional da FGV está em funcionamento desde o segundo semestre de 2024.

Segundo a pesquisadora Juliana Trece, “o centro visa produzir informação estratégica para decisões públicas e privadas, com comparabilidade nacional e foco nas especificidades nordestinas”.

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De acordo com o Boletim Macro Regional Nordeste, disponibilizado no dia 14 de abril, o PIB da região cresceu 2,4% em 2023 e, em 2024, acelerou para 3,9%, superando os 3,4% do Brasil. O avanço foi sustentado pelos setores de energia, agropecuária e serviços.

O setor de eletricidade, gás, água e gestão de resíduos registrou crescimento de 6,6% em 2024, frente à média de 3,1% do país. Em 2023, o avanço foi ainda mais expressivo: 8,5% no Nordeste, contra 5,8% no Brasil. Esses dados consolidam o protagonismo da região na transição energética nacional, segundo o Boletim Macro Regional Nordeste, publicado em abril pelo FGV IBRE.

Energia limpa lidera crescimento industrial no Nordeste

O setor de eletricidade, gás, água e gestão de resíduos foi o grande destaque da atividade industrial do Nordeste nos últimos dois anos, com papel central na consolidação da região como polo nacional da transição energética.

Segundo dados do FGV IBRE, esse segmento apresentou crescimento de 8,5% em 2023 e de 6,6% em 2024, superando de forma consistente a média nacional, que ficou em 5,8% e 3,1%, respectivamente. A performance foi decisiva para o desempenho positivo da indústria nordestina, que, sem esse segmento, teria registrado retração ou estagnação.

Nordeste se destaca por matriz energética, não pelo agro

Enquanto regiões como o Centro-Oeste sustentam seu crescimento econômico principalmente na agropecuária, o Nordeste apresenta uma dinâmica distinta. No biênio 2023-2024, o principal vetor da atividade econômica regional foi o setor de energia limpa, sobretudo com a expansão da geração eólica e solar.

O FGV IBRE ressalta que, sem o crescimento do setor de eletricidade, gás, água e gestão de resíduos — que chegou a 8,5% em 2023 e 6,6% em 2024 —, a indústria nordestina teria permanecido estagnada. Esse desempenho compensou a menor participação relativa da agropecuária, que, embora tenha crescido, não exerceu o mesmo papel estrutural que tem em outras regiões.

Segundo os dados do boletim, a matriz energética diversificada e sustentável do Nordeste é hoje a principal força econômica da região, com impacto sobre exportações, investimento industrial e potencial de geração de empregos qualificados.

Energia renovável como motor estrutural

O avanço é sustentado principalmente pela expansão da geração de energia eólica e solar, com investimentos significativos em parques eólicos no Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Pernambuco, além da ampliação de usinas solares em estados como Piauí e Paraíba.

Essa matriz limpa tem gerado impactos positivos tanto na balança comercial regional, ao reduzir a necessidade de importações energéticas, quanto na atração de novos investimentos industriais, interessados em utilizar eletricidade de baixo carbono como diferencial competitivo.

Encadeamentos produtivos e oportunidades

O FGV IBRE avalia que o setor tem potencial de encadear novas cadeias industriais no Nordeste, como a fabricação de componentes de turbinas, placas solares, transformadores e sistemas de armazenamento. Isso pode gerar empregos qualificados, diversificar a base produtiva e promover desenvolvimento regional sustentável.

Além disso, o crescimento dessa área tem impacto direto em outros segmentos, como construção civil, transporte de cargas, serviços técnicos e pesquisa aplicada, ampliando o raio de efeito econômico da transição energética.

Gás natural e saneamento com papel complementar

Embora a maior parte do crescimento venha da energia elétrica, o segmento de gás natural também começa a ganhar tração, com projetos de distribuição e terminais de regaseificação no Maranhão e em Sergipe. A gestão de resíduos sólidos e a ampliação de sistemas de saneamento completam a cadeia, com perspectivas de crescimento puxadas com perspectivas de crescimento puxadas pelo marco legal do saneamento básico, que estabelece metas nacionais para universalização até 2033, e por contratos regionais de concessão.

PIB do Nordeste: BA e CE cresceram abaixo do Brasil em 2023 e sinalizam para desempenho da região menor que o do país
Exportação de soja, principalmente a cultivada na Bahia, ajudou no desempenho positivo do setor no Nordeste em 2024. Foto: Divulgação

Agropecuária ganha fôlego com exportações

A agropecuária do Nordeste cresceu 1,6% em 2024, enquanto o setor registrou retração de -0,2% no Brasil. Apesar de representar uma parcela menor do valor adicionado regional, o desempenho positivo teve papel compensatório em relação à queda registrada no Centro-Oeste.

Em fevereiro de 2025, as exportações agropecuárias da região cresceram 53,2% em comparação ao mesmo mês de 2024. A Bahia liderou o desempenho com alta de 66,2%, puxada pelas vendas de soja, algodão e frutas. O Ceará teve crescimento de 143% nas exportações, com destaque para frutas frescas e pescados. No Rio Grande do Norte, a elevação foi de 57,5%, com forte presença de melões e outras frutas tropicais.

Serviços se mantêm como principal motor da economia

O setor de serviços, que representa a maior parte do PIB regional, teve crescimento de 3,7% em 2024, superando os 3,4% da média nacional. Comércio, transportes e turismo corporativo e de lazer foram os segmentos mais dinâmicos, especialmente em capitais como Fortaleza, Salvador e Recife.

Mercado de trabalho melhora, mas informalidade segue alta

O rendimento médio real do trabalho no último trimestre de 2024 chegou a R$ 2.284, alta de 7% em relação ao mesmo período de 2023. Em fevereiro de 2025, o saldo de empregos formais foi de +37.090 postos, com liderança de setores como administração pública, serviços de alimentação e comércio.

Apesar do avanço, a informalidade se mantém elevada, — ou seja, trabalhadores sem carteira assinada ou atuação fora do sistema de proteção social, atingindo 51% das ocupações na região, contra 30% no Sul. Essa estrutura limita a arrecadação tributária local, especialmente de ISS, e reduz a capacidade de financiamento das administrações municipais.

Categorias: SINDISERRAPE

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